10 de novembro de 2021

O professor Ernst Gombrich conta-nos em sua obra A História da Arte que, por volta de 1520, a pintura havia atingido o auge da perfeição. “Homens como Michelangelo e Rafael, Ticiano e Leonardo conseguiram levar a cabo tudo o que as gerações anteriores haviam tentado realizar”, disse ele.

É obvio que jovens desejosos em tornarem-se artistas não gostavam nadinha dessa opinião. Assim como os modernistas brasileiros ressentiam-se com a afetação métrica e linguística dos parnasianos. É normal e saudável que haja reações nas artes, e que movimentos novos surjam para suprir novas demandas sociais, expressar o espírito da época, resgatar tendências virtuosas do passado e coisas do tipo. O problema é quando o que se propõe é meramente a inventividade, a novidade vã, apenas por ser novo, com qualquer argumento justificável apenas de adorno.

Assim fizeram os artistas do século XVI, cansados de tentarem ser perfeitos e não conseguirem superar os mestres de outrora. Restou aos pobres medíocres a velha inventividade (paradoxal, eu sei), obras obscuras, incompreensíveis, pessoas de pescoços longos, falta de harmonia.

Saindo do campo da arte o cenário não muda: quando não se pode alcançar a almejada perfeição, apela-se para a novidade, o ”diferentinho”, o revolucionário. E não falo em questões de adaptação necessária em alguns casos, falo da covardia de sujeitos que preferem o novo ao bom. Não é sobre o indivíduo que faz uma pestana no violão de forma adaptada por ter dedos curtos, mas sobre aquele que não usa pestana por ter desistido de fazê-la, para evitar as dores que a arte lhe cobra. Não falo também da inventividade criadora, que traz novas técnicas, beleza e até facilidades. É sobre covardia.

É sobre o homem ou a mulher que, não conseguindo ser bom e fiel para com o cônjuge, preferem uma nova aventura. É sobre os religiosos que, vendo as dificuldades de terem uma vida reta, acovardam-se em busca de “novas morais”. É sobre políticos que, não alcançando os ideais da vida pública, criam desculpas para atos acanhados e indesejados pelo povo, buscando sempre novas bandeiras como justificativas.

A novidade pode ser amiga do bom, e até ser ela mesma boa. Mas a novidade covarde e comumente buscada é terrível, é doce veneno, como comentado por Burke, em Reflexões Sobre a Revolução na França, a respeito das elites entediadas em busca de novas modas sociais, morais e políticas, que foram responsáveis por um verdadeiro genocídio, golpe político e imoralidade. O inventivo é tentador. Caberá sempre, diante do mesmo, a severa e aguda questão: tal novidade é boa, ou é mera covardia por não alcançarmos o que é bom?