Esta semana a equipe de marketing do pré-candidato a presidente, Ciro Gomes, lançou uma série de vídeos e fotografias em suas plataformas digitais. O principal nome do PDT para 2022 já trabalha para construir seu nome como o “moderado” do atual cenário político e quem sabe receba o título de candidato da “terceira via”.

Sua estratégia é chegar ao segundo turno e construir uma coalizão nacional em torno de um eventual governo formado por ele. Ciro Gomes que não está na política desde ontem sabe que tal coalizão já existe e atende pelo nome de “centrão” e quando ele posa para fotografias segurando uma rosa na mão é justamente para uma parcela deste “centrão” que ele quer mandar o recado.

A mensagem também pode chegar aos assim chamados “isentões” liberais. Nem esquerda nem direita, carinhosamente apelidados de “turma do sapatênis” contrários aos extremos. Essa fatia do eleitor e da classe política será muito importante na escolha do candidato da terceira via.Contudo não deveria ser uma grande surpresa Ciro Gomes se apresentar segurando uma rosa e com um olhar de “confie em mim”. A Rosa está no emblema do seu partido, o PDT, e desde 1878 os socialistas mundo afora usam a rosa vermelha como símbolo e nos últimos 150 anos cada vez mais a rosa foi associada à social-democracia europeia.

Em 1893 o partido trabalhista francês foi o primeiro partido a estampar a rosa na capa de seus manifestos.

Mais recentemente, em 1971 o recém formado partido socialista francês inovou e criou a imagem de um punho segurando a rosa, oito anos depois foi a vez do PDT, partido de Ciro Gomes, segurar a Rosa pela mão. Aliás, os emblemas destes dois partidos são muito parecidos.

No final dos anos 80 a moda chegou na Inglaterra e o então decadente partido trabalhista (Labour Party) também colocou a mão na rosa. O partido passava por um debate interno muito intenso. Afinal o comunismo soviético estava colapsando na Rússia, muros que impediam as pessoas de correr do socialismo literalmente eram derrubados  e o marxismo insistia em não dar certo. No Reino Unido o cenário era ainda pior, os conservadores sob a liderança de Margareth Thatcher vinham com sucesso implementando uma agenda capitalista e liberal.

De quase falido em 1979 a uma das principais economias em 1990 no mundo, os conservadores provaram na terra da rainha que de fato o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros (esta frase de 1979 foi dita por Thatcher em uma convenção do partido conservador). Ou seja, uma mudança e uma repaginada era necessária para o partido trabalhista continuar a existir, e nada mais sedutor que uma mão segurando a rosa não é mesmo.

Nas eleições gerais de 1992 o sucessor de Thatcher no partido conservador John Major ainda na esteira do sucesso do governo anterior não teve dificuldades para vencer as eleições daquele ano, então em 1997 o terreno estaria pronto para a volta ao poder dos socialistas no Reino Unido. O importante era mostrar ao público que o partido havia abandonado a cartilha marxista e estava pronto para o socialismo do século XXI. Então um jovem candidato de fora do establishment seria importante para convencer os eleitores que o futuro próspero da nação estava na social-democracia.Nascia a tal terceira via, para inglês ver, pois era o bom e velho socialismo maquiado e enfeitado pela rosa.

O escoces Tony Blair era perfeito para a missão, mas ainda faltavam  alguns “toques” e foi aí que a equipe de marketing trabalhou muito bem. A começar pelo nome do partido. Toda peça publicitária exaltava que aquele era o NEW LABOUR PARTY (O novo partido trabalhista) .

Eis que a Rosa volta ao centro da campanha publicitária, e acompanhada de um jovem Tony Blair que transpirava renovação. Assim, Blair passou a sua campanha prometendo aos eleitores que não tocaria nas reformas estruturais feitas durante o governo Thatcher, na pauta econômica então, o thatcherismo ficaria intacto. (Qualquer semelhança com a campanha de Lula em 2002 não é mera coincidência, são apenas 5 anos entre uma e outra).

Com este discurso, Blair convenceu o mercado, eleitores que outrora votavam no partido liberal e independentes, até jornais com linha editorial mais a direita endossaram a campanha de Blair ( muitos destes jornais sentiam-se traídos pela maneira que o partido conservador articulou o fim prematuro do governo Thatcher).

Foi a maior vitória da história do partido trabalhista até hoje, marcou praticamente o fim do partido liberal no Reino Unido, nesta eleição por exemplo, foi coroado o trabalho de quase 100 anos da sociedade Fabiana de Londres que implodiu o partido liberal e fortaleceu o partido trabalhista (essa história a gente conta outro dia).

 

O GOVERNO BLAIR.

Logo no início de seu mandato, Blair tratou de afastar os poucos sindicatos que ainda restavam ligados ao partido e estabeleceu políticas sociais que em tese trariam os benefícios do capitalismo aos mais pobres, como Thatcher praticamente privatizou tudo o que tinha que privatizar os eleitores mais liberais e conservadores não temiam uma grande intervenção estatal em suas vidas, por tanto estas políticas não seriam uma ameaça. Ledo engano, Blair não precisava das estatais para avançar sua agenda socialista. O governo Thatcher foi muito eficiente nas pautas econômicas, mas deixou de lado o combate cultural que os anos 80 exigia.

Blair criou uma série de benefícios para “redistribuição de renda” (conhecidas como welfare)  promoveu o multiculturalismo, políticas mais brandas para imigração, aprovou leis como o casamento de pessoas do mesmo sexo promoveu uma reforma no sistema judiciário , que levou a criaçao da suprema corte no país,mas a marca do seu governo de fato foram as guerras.

No fim dos anos 90 e começo dos anos 2000 onde houve um conflito armado no mundo um soldado britânico esteve lá. A mais famosa de todas foi a parceria com o presidente americano G.W Bush na guerra ao “terror” e a invasão ao Iraque.

Recentemente em 2017, em uma entrevista para a SKY News, Tony Blair admitiu que a invasão ao Iraque foi um erro. Hoje sabemos que o lobby da indústria de armas de guerra era muito forte em seu governo.

Em 2005, Tony Blair se reelegeu para um terceiro mandato, (o segundo mandato veio das eleições gerais de 2001) mas 2 anos depois, em 2007 o próprio partido trabalhista o removeu do cargo. A baixa popularidade, o fracasso da guerra ao terror e a crise financeira internacional foram demais e nem um campo de rosas salvaria o mandato de Blair. Aliás esta vitória de 2005 foi a última até o momento do partido trabalhista no Reino Unido e o partido não tem perspectiva de voltar ao poder tão cedo.

Os ingleses descobriram que a Rosa na mão de Tony Blair continha espinhos e cravos que machucaram a cultura e as raízes do país, deixando cicatrizes que de tempo em tempo recordam os ingleses (atentados terroristas por exemplo) do estrago que a tal social democracia pode causar.

Agora com uma rosa na mão, Ciro Gomes tenta emular a versão brasileira de Tony Blair, tudo para conseguir o voto daqueles mais desatentos e que acreditam que uma via de meio possa ser a alternativa do atual cenário político brasileiro.

Ciro Gomes não tem nada de alternativo e diferente, é apenas um cínico que vê a possibilidade de conseguir votos dos liberais que insistem em não reconhecer que a verdadeira batalha é no campo cultural. A rosa que Ciro Gomes segura na mão é a mesma que vem desde a comuna de Paris em 1871 enganando para depois ferir populações inteiras com seus espinhos escondidos  em quatro continentes a mais de 150 anos.

Observando atentamente a estes detalhes, podemos observar uma coesão e um diálogo permanente entre os partidos socialistas pelo mundo, isso inclui até o modus operandi pré-eleitoral, tudo conectado como um único corpo de espírito revolucionário.

São muitas as semelhanças entre Ciro Gomes e Tony Blair, mas sejamos justos, Blair (que eu saiba) não tem irmãos que jogam retroescavadeiras nas pessoas, Blair foi mais direto, e optou por jogar bombas em civis inocentes, tudo em nome da paz mundial e no combate ao terror. Em uma mão ele apertava o botão que disparava as bombas e na outra mão ele segurava a rosa vermelha.