Na semana passada, em meio a tantos acontecimentos significativos no espectro Internacional – como a crise no Afeganistão, as crescentes tensões no Leste Europeu, e a nova Guerra Fria no Pacífico, o mundo-livre celebrou a notícia de que uma parceria Trilateral robusta de Defesa foi iniciada entre o Reino Unido, os Estados Unidos e a Austrália. A iniciativa, que pode ser o início de uma integração ainda maior entre o Ocidente e as nações do Pacífico, representa um grande avanço para o setor militar australiano, uma oportunidade ímpar de reposicionamento logístico e estratégico na Oceania, e mais um grande – e possivelmente intransponível – obstáculo para a China em sua corrida para dominar o teatro geopolítico Indo-Pacífico.

O acordo entre os países de língua inglesa nos remete ainda, de forma indiscutível, a outras iniciativas internacionais que ainda se encontram em análise e prospecção, como a proposta do bloco tricontinental “CANZUK” (Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido), que tem o potencial de mudar não apenas as dinâmicas entre esses países, mas todo o contexto no Pacífico. Dessa forma, a aproximação entre essas potências carrega um significado simbólico que também é muito importante, acenando para uma integração mais profunda entre as nações de origem e cultura anglo-saxônica.

A Austrália, que já vem há alguns anos incrementando significativamente seu orçamento de defesa e suas plataformas bélicas diante das crescentes hostilidades e provocações chinesas, além de importante player na estabilização do continente asiático, é também um importante recurso em termos logísticos às demais potências aliadas, como os Estados Unidos e o Reino Unido, uma vez que, dada sua localização – distante, mas ainda próxima, da zona geopolítica em disputa com a China – pode funcionar como um posto-avançado e ponto de resistência fundamental ao Ocidente na ocasião de um confronto com os Chineses. Além disso, o papel australiano no patrulhamento das águas do Pacífico tem se tornado cada vez mais indispensável, considerando ambas as atividades, submarinas e de superfície. No caso das ações anti-submarinas (Anti-Submarine Warfare), que inclusive foram o pretexto dessa nova parceria, identifica-se um papel ainda mais vital, dado o crescente interesse da China e da Rússia por tecnologias ofensivas no setor, sendo, dessa forma, indispensável que a Austrália opere equipamentos e embarcações de topo de linha. Assim, temos o movimento inicial que fomentou todo o desenvolvimento da estratégia tríplice: a oferta de submarinos de tecnologia nuclear à Austrália por parte dos dois países que lideram o setor no mundo hoje, Estados Unidos e Reino Unido.

Significativamente mais eficientes, letais e sofisticados que os submarinos “convencionais” – ou seja, de tecnologia de propulsão diesel-elétrica – os Submarinos de Ataque movidos à propulsão Nuclear são hoje a grande plataforma de defesa das grandes potências no oceano, sendo capazes de permanecer submersos e indetectáveis a grandes profundidades por períodos extremamente longos e de trabalharem um alcance operacional praticamente ilimitado. Com essas embarcações, as grandes potências têm a vantagem – indispensável nos dias de hoje – de patrulhar e defender porções muito extensas de território marítimo, ao mesmo tempo em que mantém ocultas no oceanos, grandes e importantes partes de seus arsenais – e ainda, de forma móvel em nível global. Tais características serão fundamentais para qualquer estratégia eficiente de contenção ao expansionismo chinês.

O problema, que retorna ao título deste artigo, contudo, é que a Austrália já havia iniciado negociações com a França para a aquisição de um novo programa de submarinos – convencionais/de propulsão diesel-elétrica – a partir de um contrato avaliado em aproximadamente $ 80 bilhões. Assim, ao optar pela oferta – de fato muito mais interessante e vantajosa – dos Britânicos e Americanos, a Austrália frustrou drasticamente as expectativas do Governo Francês ao cancelar tal contrato em benefício da nova parceria. Somando-se tal frustração à grave crise de popularidade enfrentada hoje pelo Presidente da França, Emmanuel Macron,  ao “custo de oportunidade” econômica acarretado pela decisão do Governo Australiano, e ao atual estado econômico da França e do bloco europeu, temos uma combinação explosiva que resulta em desespero político por parte do Governo Francês e de seu Presidente. Como resultado, a França adotou a temerária e infantil atitude de insultar publicamente os países que hoje são alguns de seus maiores e mais próximos aliados (Reino Unido, Estados Unidos e Austrália) e de reconvocar seus embaixadores na Austrália e nos Estados Unidos, gerando o que pode se tornar rapidamente uma grave crise diplomática no Ocidente em um momento no qual diversos acontecimentos, em diversas frentes, ameaçam gravemente a sua segurança e integridade. Logicamente, o mais provável é que a temeridade francesa passe pelo cenário internacional sem maiores consequências, mas o perigo de lideranças fracas, despreparadas e desesperadas por relevância – como é o caso da liderança Macron – jamais deve ser subestimado. Especialmente, considerando que estamos a poucos meses de uma disputa eleitoral virtualmente impossível para o Presidente Francês, que a cada dia vê sua popularidade (doméstica e internacional) despencar ainda mais.